Bom, este blog tem como principal objetivo tratar de emoções, logo, não faz sentido algum deixar de falar desta ou daquela emoção ou sensação por ser mais marginal. As emoções mais negativas, como tédio ou tristeza, têm se tornado a periferia da alma humana. Ninguém quer ficar triste, ou entendiado, ou deprimido, ou mesmo ter desejos suicidas. Se não me sinto alegre, é melhor fazer alguma coisa sobre isso; afinal, devo ter algum problema, quiçá algum transtorno afetivo ou qualquer outra coisa que explique tamanho despropósito. Enfim, melancolia sai de mim…
Ainda assim, sentimo-nos como podemos nos sentir e todas as emoções (positivas e negativas) nos tornam humanos.
Deixo com vocês uma crônica escrita em um fim de tarde, desses que nos oprimem e fascinam ao mesmo tempo.
Ocaso dominical
As janelas sempre me fascinaram… Desde que fui tomada por este mal de escrita eu observo a vida, as pessoas, as árvores, como uma espécie de voyeur da alma humana. Acredito que seja por isso que as janelas sempre me atraem. Por meio delas, as casas espiam os homens e os poetas, a vida. O centro de São Paulo é o lugar ideal para ser observado por janelas sem fim, sentindo-se toda a vibração de uma metrópole desvairada, contudo bela e boa segundo os critérios de Baudelaire. Ruim para mim, que não sendo o poeta, sinto apenas a apoptose semanal de todos os domingos. Domingo parece a agonia do frenesi citadino. O dia é despertado pelo trânsito, pela feira livre, pelo mercado e o açougue. Pessoas indo e vindo; três da tarde tudo é sossego. O prédio em frente ainda calidamente dourado e a rua, no entanto, estende-se vazia e solitária em seus caminhos domingueiros. A quietude agonizante de um fim de tarde de domingo. Vejo esse silêncio pela janela do apartamento sessenta e um de uma rua igual a tantas outras que formam a trama urbana da vida. Mais uma rua que perfaz o montante de passadas na história existencial de cada um. A rua: um caminho, uma escolha… O vento açulando as árvores, um par tardio de calçados caminha a rua e mitiga sua solidão. Um refrigério para um sossego muito desrespeitoso com a cidade. A pálpebra da janela se fecha lentamente e o mundo exterior se distancia tão calmo quanto um fim de tarde de um domingo qualquer.