Dores e solidões

Postado em 24 de Setembro de 2016 - 18:04:00

Novamente o choro repentino rompe o silêncio arisco da minha própria ausência.

Não sei qual a razão do nó na garganta e das lágrimas que teimosamente ousam transbordar os limites das pálpebras. Tudo isso devia ficar no obscuro da alma, pois a todo custo é preciso sorrir e se alegrar, mas cedo ou tarde o chocolate nosso de cada dia falha; nem mesmo a aclamada fluoxetina dá jeito.

O choro preso há dias - anos, talvez vidas - quer vir ao mundo, anseia transmutar dores e fracassos em experiências de banhos soluçantes da alma. Uma espécie de renascimento que pede o sal e a umidade do humano que habita fragilizado em cada de um nós. Contudo, faço força para engoli-lo, rebaixá-lo ao seu exílio como me ensinaram há décadas, todavia ele está decidido a cumprir sua missão e eu falho em relegá-lo ao esquecimento. Não posso mais seguir os ensinamentos que me passaram…

As lágrimas paridas pelo olhar não trazem o alívio prometido e aumentam a dor de cabeça ( cá entre nós, parece-me que este é um complô do meu corpo para me avisar que a fluoxetina pode me matar, nem que seja metaforicamente, já que há uma ficha corrida de colaterais e interações medicamentosas…). De qualquer forma, não sei o que tem tornado o choro mais fácil, se é idade chegando, pensamentos baldios causando, memórias ou sons se insinuando a partir dos recônditos do inconsciente. Talvez sejam as solidões da solidão inexorável que nos compõe querendo partir.

Como lidar com toda essa confusão afetiva? A balbúrdia emocional que beira os desafios de busca de sentidos iniciados na adolescência - achei que passaria, mas me iludi, pois parece pior a cada ciclo…

Por hora, melhor enxugar os olhos, aceitar um abraço e comer esfiha, ao menos enquanto a dieta é apenas uma possibilidade.